Nós estudantes, futuros professores de educação física necessitamos compreender ao longo de nossa graduação no Ensino Superior as diferentes manifestações da cultura corporal, seja no âmbito escolar ou não escolar visando uma formação ampla e que possibilite a plena atuação do professor em qualquer âmbito de atuação profissional. Precisamos a partir de uma sólida base teórica consistente compreender que implicações fisiológicas, biomecânicas e cinesiológicas um treinamento de força prolongado ocasiona no aluno da academia e que implicações histórico-sociais o levam a buscar tal treinamento. A partir dessa compreensão, que articula as diversas ciências em torno da prática pedagógica, elemento caracterizador da educação física como área do conhecimento, poderemos agir de forma pedagógica levando-o a refletir sobre tal prática corporal visando à formulação de um treinamento que possibilite a compreensão corporal do aluno e impossibilite a ocorrência de lesões músculo-esqueléticas, a utilização de esteróides anabólicos e outros fatores que ocorrem pela busca de um corpo estereotipado.
Também, precisamos, a partir da constatação de que 60% dos professores formados atuam em ambientes escolares, compreender que determinações histórico-sociais dizem respeito ao ambiente escolar, o papel social que a escola possui em transmitir conhecimentos historicamente construídos e sistematizados pela humanidade e de que forma compreendendo as diversas manifestações fisiológicas, biomecânicas, cinesiológicas podemos trabalhar de forma pedagógica com nossos alunos os conhecimentos da cultura corporal, ou seja, fazê-los refletir sobre esses conhecimentos e a sua relação com a realidade de forma a não ocasionar na escola a sua negação enquanto disciplina constituinte do currículo, assim como não torná-los inaptos a realizar práticas esportivas e corporais devido à ocorrência de lesões decorrentes de atividades mal planejadas devido a não compreensão do desenvolvimento cognoscitivo das crianças.
Esta formação, atualmente vem nos sendo negada devido à atual fragmentação da formação em licenciatura e bacharelado que delimita a partir de uma interpretação tendenciosa do sistema CONFEF/CREF das leis referentes a formação em educação física que a Licenciatura estuda os aspectos da prática pedagógica em educação física e o bacharelado os aspectos técnicos referentes às atividades esportivas. Esta falsa dicotomia imposta à área por esse sistema (que lucrou 8 milhões no ano de 2008 a custa da cobrança obrigatória de taxas de anuidade, cobrança que não consta como sua atribuição conforme a lei 9696/98) coloca já na graduação uma formação especializada em educação física escolar ou em saúde e atividade física. Aligeira e desqualifica a formação de professores em educação física já na sua gênese e não possibilita que os estudantes compreendam a essência que caracteriza a educação física, que historicamente se constituiu e se constitui enquanto prática pedagógica para com os elementos da cultura corporal (dança, ginástica, esporte, artes circenses, lutas) e torna os profissionais formados reféns de cursinhos de final de semana buscando uma melhor capacitação para um mercado de trabalho que esta em constante processo de oscilação, ora precisando de um número mínimo de trabalhadores, ora demitindo e precarizando muitos milhões.
Defendemos assim, como proposta de formação em Educação Física a Licenciatura Ampliada por entendermos que os estudantes precisam compreender com base em um consistente alicerce teórico a totalidade da educação física, nos seus mais diversos aspectos (sejam eles sociais/humanos ou naturais/exatos) para que a partir dessa compreensão possam analisar compreender e intervir cientificamente na realidade social que vivenciamos hoje, tomando atitudes e decisões de acordo com as suas necessidades e possibilidades, formulando políticas públicas para a educação física, o esporte e o lazer e desenvolvendo uma prática em educação física que caracteriza claramente a nossa identidade profissional, ou seja, o ato de sermos professores em qualquer âmbito de atuação profissional seja na escola ou fora dela.
O uso do termo Licenciatura não é utilizado por possuirmos um posicionamento preconceituoso com o termo Bacharelado ou com o campo de atuação não escolar, mas por pura e simplesmente uma questão legal. A Legislação (CNE 07/2004) que versa sobre os cursos de graduação em Educação Física determina que os mesmos possam ocorrer em três tipos de formação, quais sejam: Licenciatura, Bacharelado ou Tecnólogos. Porém, de acordo com a legislação 01/2002 do CNE, e com bases na análise juridica do Parecer 400/2005 do próprio CNE, que desmente a análise tendensiosa do sistema CONFEF, o único dos três que possui base legal para trabalhar profissionalmente em todos os âmbitos de atuação, a dizer escolares e não escolares, é a Licenciatura.
Este fato justifica legalmente a concepção de currículo ampliado que o Movimento Estudantil de Educação Física (MEEF), a Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física (ExNEEF), a Linha de Estudos e Pesquisas em Educação Física, Esporte e Lazer da Universidade Federal da Bahia (LEPEL/UFBA), o Movimento contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física (MNCR e o Diretório Acadêmico do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM defendem e vem construindo junto aos estudantes e através da sua luta cotidiana.
Após quatro anos de intensos e qualificados debates em torno da formação no CEFD realizados democraticamente com o amplo conjunto de estudantes em mesas de discussão, semanas acadêmicas e encontros estudantis, após a paralisação em três dias para que os três setores (alunos, professores e funcionários) debatessem no ano de 2009 quais os rumos que a formação do CEFD iria tomar, após ocupação justa e digna dos estudantes ao Conselho de Centro aprovarmos a construção de um curso único, este construído de forma paritária, debatido e referenciado como escolha dos estudantes na X Semana Acadêmica ocorrida em 2010 é que reafirmamos a necessidade de lutarmos por uma formação unificada que vise retomar os rumos pelos quais a Educação Física jamais deveria ter saído após as profícuas e consistentes formulações na década de 90 sobre a temática promovida pela revista Movimento “Mas afinal, o que é Educação Física?”.
Portanto, nós estudantes do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM, organizados e mobilizados através de nosso Diretório Acadêmico e da ExNEEF, respondemos cerca de 20 anos depois a nossa maneira, de forma teórica com a formulação da proposta e de forma prática com a ampla maioria dos estudantes do CEFD construindo a campanha pela reestruturação curricular que afinal, Educação Física é uma só! Formação Unificada JÁ!
Nenhum comentário:
Postar um comentário