sábado, 15 de outubro de 2011

Plano Nacional de Educação: histórico e necessidade de luta em prol da educação pública

Plano Nacional de Educação: histórico e necessidade de luta em prol da educação pública

A necessidade da elaboração de um Plano Nacional de Educação (PNE) vem desde a década de 1930, com o intuito de orientar as ações educacionais do poder público do Estado. Porém, somente em 1962, após a LDB de 1961, foi elaborado e implementado o PNE, sob a proposta de metas do Conselho Federal de Educação (CFE). O segundo PNE foi elaborado concomitantemente à Constituição Federal de 1988 (CF/88), e propôs as seguintes pautas: (i) a erradicação do analfabetismo; (ii) a universalização do atendimento escolar; (iii) a melhoria da qualidade do ensino; (iv) a promoção humana, científica e tecnológica do país.

A LDB de 1996 reafirma a necessidade do PNE, porém, é orientada e diretamente influenciada pelo Banco Mundial. Durante a sua formulação a União priorizou a discussão do seu PNE pautado na dependência econômica para o investimento em projetos sociais e na educação, mantendo engavetada a proposta. Em função do descaso por parte do governo em relação a constituição de um Plano Nacional de Educação, a sociedade civil mobilizou-se e organizou o Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública e o I e II Congresso Nacional de Educação, em 1996 e 1997. Esses espaços propiciaram amplos debates a partir dos quais elaborou-se o que fica conhecido como PNE da Sociedade Civil ou PNE da Sociedade Brasileira, constituído por especialistas da área, sindicatos de professores e movimentos sociais, pautando a universalização do acesso à educação, ampliação do acesso à educação em todos os níveis (da educação básica ao ensino superior), defendendo a necessidade da educação ser pública, financiada pelo Estado e gratuita para todos.

Contudo, contraditoriamente o PNE-MEC é vinculado ao PNE-Sociedade Civil, sendo que os mesmos tinham duas visões totalmente diferentes de sociedade. O PNE governista é construído a portas fechadas, apresentado como contra-proposta ao PNE da Sociedade Brasileira e visa manter a dependência econômica brasileira desvinculando do Estado o papel de financiar a educação, municipalizando-a. Já o PNE da sociedade brasileira, é construído de forma amplamente democrática através de educadores, sindicatos e movimentos sociais e visa defender a educação pública a todos os níveis, gratuita e de qualidade social. Vinculando as duas propostas, o MEC esvazia de sentido as reivindicações históricas dos trabalhadores, deturpando-as e acaba por demonstrar o fundo neoliberal de sua proposta influenciada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e que ataca a formação de professores e a educação, com a visível ampliação e domínio do setor privado, principalmente na educação do ensino superior.

Nessa conjuntura de ataques internacionais, e o não cumprimento das metas do PNE entre os anos de 2001 e 2010, é necessário caracterizar o descomprometimento do Estado em diversos aspectos. Apesar de a meta ser uma redução na evasão escolar para 5%, observou-se um aumento de 10% para 13,2% entre 2006 e 2008, O aumento de vagas no ensino superior, que deveria ser de 40%, não foi atingido, em 2002 esse aumento foi de 29%, e em 2010, de 25%, demonstrando que o ensino superior privado aumentou duas vezes no mesmo período. Com relação ao analfabetismo, cuja meta era a erradicação, a taxa segue muito alta: em 2000, era de 13,6%; e em 2010, 9,7% Todas essas metas idealistas resultam no não comprimento, ou seja, no FRACASSO em 2/3 do PNE 2001-2010. A análise feita pelos próprios especialistas governistas é de que o fracasso se deu pela falta de recurso.

O PNE que será aprovado em novembro desse ano indica as metas e estratégias para 2011-2020 e é construído por entidades como a Confederação Nacional dos Empresários, Confederação Nacional da Indústria, União Nacional de Estudantes, Central Única dos Trabalhadores e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, entidades essas que não representam o interesse da sociedade brasileira e sim interesses corporativistas, ligando a formação dos futuros trabalhadores à economia, com o intuito de formar capital humano.

Nesse cenário de contradição nos interesses educacionais, o novo PNE ainda pretende cumprir as promessas da década passada, aumentando o acesso dos alunos ao ensino superior de 30%, em 2010, para 33% em 2020. Outro exemplo é a pretensão de erradicação do analfabetismo e atendimento de metade das crianças de 0 e 3 anos na educação infantil, que também ficaram para 2020.

Todas essas características apontam para a contra-reforma da Universidade com o projeto REUNI, PROUNI, SINAES (ENADE), situando que a precarização da Universidade pública é de interesse do setor privado que fortalece sua inserção na medida em que o Estado se ausentou do compromisso com a sociedade e com a educação pública e de qualidade. Transformando a educação em formação para o trabalho, sob os interesses do capital. Verificamos que no novo PNE a Educação à distância (EAD) ganhou uma importância ainda maior, modificando, aos poucos, o conceito de educação, que já não se baseia no tripé ensino, pesquisa e extensão, mas coloca uma educação somente no viés do ensino precarizado, visto que esse indivíduo não vai ter acesso a aulas presenciais. Essa é uma das formas de garantir maiores números no ensino superior, não garantindo a qualidade do mesmo. Ao tratar sobre investimento na educação, o novo PNE coloca que será investido até 7% do PIB na educação, essa meta deixa claro que ao longo do processo esse objetivo pode ser vetado, além de deixar ambíguo, pois em nenhum momento colocam a porcentagem de investimento no setor público e privado.

Por conta dos ataques históricos que a educação pública sofre, os quais visam a sua precarização e privatização é preciso resgatar os princípios do PNE da Sociedade Brasileira e nos colarmos em luta, articulada entre os diversos setores dos movimentos docente e estudantil, contra o “novo” Plano Nacional de Educação 2011-2020 e exigirmos 10% do PIB para a educação pública já!Exigindo uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada!

Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O SINAES, o ENADE e mais um ataque a educação pública.

O SINAES, o ENADE e mais um ataque a educação pública.

Em 14 de abril de 2004 é instituída a Lei 10.861 que cria o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) que promove a avaliação de instituições, de cursos e de desempenho dos estudantes com o intuito de “melhorar a qualidade da educação superior, orientar a expansão da sua oferta, o aumento permanente de sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e, especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e responsabilidades sociais das instituições de educação superior...”.

O instrumento que compõe o SINAES como forma de avaliação do estudante é o Exame Nacional de Avaliação de Desempenho do Estudante (ENADE). O ENADE surge para substituir o exame padrão, aplicado nacionalmente, intitulado “PROVÃO” que visava avaliar o ensino superior “através dos conteúdos mínimos estabelecidos para cada curso” sendo obrigatório para @s estudantes em período de termino do curso. No entanto, devido o seu caráter exclusivista, que visava à produtividade e culpabilizava @s estudantes pela má qualidade do ensino superior, o Provão foi “reprovado” pel@s estudantes que se mobilizaram em suas entidades e organizaram sucessivos boicotes.

O ENADE pode até parecer diferente do Provão, mas essas diferenças são apenas residuais e de ordem burocráticas: O provão era realizado de três em três anos, o ENADE é anualmente; em um, só estudantes que estão finalizando o curso são obrigados a fazer a prova, no outro os estudantes em inicio do curso são obrigados a comparecer a prova. Ou seja, o objetivo acaba sendo o mesmo tanto em um, como no outro. O ENADE continua visando a produtividade e culpabilizando o estudante pelas mazelas da educação superior.

Qualquer que seja a avaliação, esta não será neutra, ela traz concepções sobre o que se quer avaliar e sobre a sociedade. O SINAES é constituído por uma lógica onde a avaliação é padronizada para atender os interesses de mercado, fazendo com que instituições, cursos e estudantes sigam as determinações balizadas pelas teorias capitalistas.

O SINAES e o ENADE são mais uma ação da reforma universitária vigente no país instituída pelo governo Lula\PT (Outro exemplo é o projeto de inovação tecnológica que molda a linha de pesquisa das IFES a partir das demandas do mercado), evidenciando mais um ataque neoliberal aos serviços públicos, isso quer dizer que o estado cada vez mais se afasta de suas responsabilidades públicas (educação, saúde, renda, moradia e outras), o que acaba precarizando e sucateando a educação pública, e aprofundando sua mercantilização, valorizando a iniciativa privada sobre a educação.

Por que vamos boicotar...

Entendemos que a avaliação é importante, no entanto, é necessário uma avaliação que se aprofunde na realidade das instituições, dos cursos e d@s estudantes com o intuito de transformar qualitativamente as condições de aprendizagem no ensino superior no Brasil, o que não acontece no SINAES. Além de continuar com alguns defeitos do provão, o SINAES, apresenta novos quesitos e aperfeiçoa algumas características do provão que eram mais criticadas pelo movimento estudantil, demonstrando a defesa de uma universidade muito distante da que nós defendemos (Pública, gratuita, laica e de qualidade).

Dentre as características do SINAES podemos apontar algumas como:

A) Ranqueamento – Tanto no ENADE quanto na avaliação das instituições e dos cursos, dar-se-á por notas ordenadas em cinco níveis (de A até E), sendo esses resultados utilizados facilmente para propagandear para o mercado, enfatizando uma lógica produtivista em detrimento do papel social da universidade.

B) Obrigatoriedade e punição – Além d@ estudante ser obrigado a comparecer para a realização do ENADE, por este ser componente curricular obrigatório, penaliza os cursos com as notas mais baixas, fazendo com que busquem recursos próprios para sanar os problemas como se o estado não tivesse responsabilidade pela educação.

C) Desrespeito as regionalidades – O ENADE por ser um exame único em todo país, desconsidera todos os aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais das regiões brasileiras, além de desconsiderar todas as avaliações realizadas durante a graduação.

D) Premiação - @s estudantes com melhor desempenho no ENADE são premiados “com bolsas de estudo, ou auxílio específico, ou ainda alguma outra forma de distinção com objetivo similar”, acirrando a competitividade entre @s estudantes e enfraquecendo possíveis boicotes e a luta por uma avaliação e educação de qualidade.

Esses são apenas algumas críticas que fazemos ao ENADE e a justificação para o boicote.

Os boicotes no MEEF...

Neste ano o ENADE será realizado no dia 06 de novembro sendo facultativo para @s estudantes ingressantes nos cursos, apenas os concluintes serão obrigados a comparecer no local da prova.

O boicote ao e ENADE é pauta compartilhada pelo movimento estudantil combativo e de luta de vários cursos e debatido e deliberado constantemente no Fórum Nacional de Entidades e Executivas de Cursos (FENEX). Na Educação Física não é diferente, no XXXII Encontro Nacional de Estudantes de Educação Física (ENEEF) que ocorreu em Santa Maria, mais uma vez foi deliberado que devemos boicotar o ENADE sendo contrários a essa avaliação falsearia. Vários cursos de Educação Física de todo Brasil ao longo desses anos vêm mobilizando @s estudantes e realizando sucessivos boicotes.

Esse histórico faz com sejam quebrados alguns mitos com relação ao boicote. Um desses mitos é o de que o estudante que boicota o ENADE não recebe diploma. Na verdade @ estudante que não comparecer a prova terá problemas quando for se formar, pois, segundo Lei nº. 10.861 artigo 5º, parágrafo 5º, o ENADE é componente curricular obrigatório, no entanto, você não precisa responder a prova, basta assinar seu nome e colar o adesivo do boicote ao ENADE, assim estará caracterizado o boicote. Além disso, a nota d@ alun@ não é divulgado publicamente, conforme artigo 5º, parágrafo 9º, da mesma legislação, a nota é endereçada apenas para @ estudante, sendo a média geral do curso publicada.

Por todos esses motivos citados neste texto, convocamos tod@s @s estudantes de educação física sortead@s, para que no dia 06 de novembro compareça ao local da prova e boicote o ENADE, mostrando para o governo federal e a sociedade que somos contrários a essa mercadorização da educação e das universidades!

Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física

Gestão 2011/2012

JOINTEF

As incrições do JOINTEF estão abertas. O valor individual a ser pago para poder participar de todas as modalidades e ter entrada gratuita na JOINFEST é 5,00. A Ficha de inscrição encontra-se com os responsáveis dos semestres. A data para entrega da ficha é 25 de Outubro no DACEFD.

Responsáveis dos Semestres

1º Semestre: Lisi (Bacharelado); Eduardo (Licenciatura)

2º Semestre: Fernanda (Bacharelado); Maiara (Licenciatura)

3º Semestre: Lucas (Bacharelado); Rodrigo Dahmer (Licenciatura)

4º Semestre: Gabriel H. Mendes (Licenciatura)

5º Semestre: Rafael Rodrigo Klein (Licenciatura)

6º Semestre: Caroline Roque (Licenciatura)

7º Semestre: Não veio

8º Semestre: Douglas (Licenciatura)

Pós: Fábio Vargas e Gabriel Souza


Datas dos Jogos: 28,30, 2, 4 e 5.

JOINFEST: 5 de Novembro à noite; com entrega de premiações (Premiação lúdica para todos os semestres;1º Lugar: 1 caixa de ceva; 2º Lugar:1/2 caixa de ceva).

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O que é ser professor?

O que é ser professor?

Ser professor é mais do que um trabalho assalariado, pois sabemos que os trabalhadores e trabalhadoras não são valorizados, e sim sempre explorados, em favor do lucro de alguns poucos safados, por demais abastados, que mantêm os meios de produção na palma de sua mão.

Ser professor é ir além da lógica de se trabalhar no local indicado, pelo fato de que não se trabalho com ensino só com horário marcado, e sim a todos os momentos, seja na sala da escola ou em casa no planejamento. E ainda, sabemos que sempre se ensina no dia-a-dia da conversa amiga, seja em casa ou no bar da esquina, pois é ali que encontramos questões reais que provam o que falamos e debatemos na escola a poucas horas atrás.

Ser professor é enfrentar uma enorme precarização, muito por causa da falta de razão desse governo que só tem ladrão, e que não aceita destinar 10% do PIB pra Educação Pública Já, enquanto paradoxalmente prega por maior aumento na taxa de escolarização de nossa pobre população.

Ser professor é ter noção de que com cada nova mediação, um novo mundo pode criar, mas que um grupo enorme de possíveis estudantes desta construção chance nenhuma teve de participar, muito pela forma que esse sistema se utiliza para se perpetuar.

Ser professor é um novo modelo de sociedade almejar criar, aonde todos possam realmente estudar, sem que pra isso a nenhuma exigência do Capital tenha de se sujeitar.

Ser professor é lutar por uma melhora real na vida, pois investir apenas na educação não é saída, ninguém vai pra escola se em sua casa todo dia falta um prato de comida. Os estudantes fora das escolas sempre haverão de estar, se para sua família alimentar desde cedo tem de sair para trabalhar. E, claro, não podemos relevar, as horas nas filas de hospitais públicos que eles hão de gastar, apenas como desculpa para aqueles safados utilizar e estas entidades poder privatizar.

Ser professor é saber que a luta é diária, assim como que a responsabilidade de muito do que na sala acontece, não cabe aos alunos e sim a tudo que lhes carece, pois tem de viver em um modelo de sociedade que ninguém merece.

Ser professor é, finalmente, sempre lembrar que sozinho não se vai a nenhum lugar, que sem o outro nada há de mudar, logo enquanto e ao lado dos demais trabalhadores sempre tem de se posicionar para essa sociedade capitalista conseguir derrubar.


Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física

DE UMA VEZ POR TODAS... REGULAMENTAR PRA QUEM???

DE UMA VEZ POR TODAS... REGULAMENTAR PRA QUEM???

A regulamentação do profissional de Educação Física é um debate permeado pela disputa de projetos em nossa área. A retórica dos defensores da regulamentação encontra, ainda, amplo respaldo na população afirmando que hoje os espaços ocupados pelos trabalhadores de Educação Física são “TERRA DE NINGUÉM, são ESPAÇO VAZIO. Sendo espaço vazio qualquer um pode ocupá-lo. Portanto devemos ocupá-lo antes que outros o façam”. Todo esse discurso cai por terra ao nos remontarmos a história de nossa profissão para compreendermos que a EF sempre teve uma função social de atendimento e subordinação às necessidades da ideologia dominante. Em diferentes períodos de constituição e consolidação da sociedade capitalista esta foi quem determinou o perfil do profissional de EF e de que forma este trabalharia, como nos períodos higienista utilizada como cuidados para o corpo e com grande influência médica na área, mais tarde como, militarista onde a EF era utilizada para preconização de homens fortes e hábeis para guerra, tinham assim uma EF militarista, que se materializava dentro da escola apenas enquanto ginástica até chegarmos ao período esportivista, onde até hoje às diversas práticas corporais sofrem com diferentes processos de esportivização.

Com a ascensão do modelo capitalista a EF continua servindo para ajudar na manutenção do sistema, onde com a expansão da industrialização, agora é interessante que o trabalhador seja preparado para agüentar as jornadas extenuantes de trabalho, e a EF vai servir agora para cumprir essa demanda do capital, havendo a exacerbação da abordagem da aptidão física na área.

Mais tarde com os avanços no mundo do trabalho, seguidas de exigências de um novo trabalhador com maior capacidade de abstração, raciocínio, interatividade, competitividade, adaptabilidade, empreendedorismo, etc. a EF passa a não atender a essa prerrogativa, perdendo o seu valor no campo escolar, sendo- lhes atribuídas outras funções no campo ideológico. A partir daí a EF através do processo de esportivização da sociedade brasileira e do ideal do corpo perfeito criado pela sociedade capitalista, ganha espaços em diversos outros campos, se moldando desta forma as exigências do novo modelo de sociedade.

Calcada historicamente em uma concepção de homem e de mundo respaldadas pelo capital, a Educação Física até meados da década de oitenta se encontrava sob o jugo de um setor dominante que dava as diretrizes para a formação em nossa área. No entanto estes setores passam a ser questionados pelos movimentos renovadores da área que se constituem com um coletivo de professores dispostos a colocar a EF a serviço dos trabalhadores realmente, valendo- se e socializando o seu objeto de estudo, considerado por estes como cultura corporal, retirando a Educação Física de sua histórica condição de subordinação a ideologia dominante.

Neste sentido que se torna cada vez mais clara a disputa de projetos na área, entre os que legitimam o projeto do capital para a formação humana e os que defendem a superação desse modo de organizar a vida. Este embate de projetos culmina em diversas discussões na área que na década de oitenta, os professores que se debruçavam por defender uma Educação Física para além dos interesses da classe dominante sofrem um duro golpe com a divisão da formação em licenciatura e bacharelado (resolução CFE 03/87), onde claramente os setores dominantes na busca por atender a crescente demanda do mercado de trabalho na área da atividade física e saúde fragmentaram a profissão no intuito de respaldar a formação acadêmica para o atendimento dessas demandas, reduzindo assim o papel que a formação em nível superior deve ter. Vale lembrar que os principais interessados nessa divisão foram os grandes empresários das academias, que necessitavam de trabalhadores mais baratos para aumentarem seus lucros.

Dentro destes elementos apontados identificamos que há uma luta bastante clara em nossa profissão que reflete a luta mais geral da sociedade de classes em que seu antagonismo entre burguesia e proletariado se manifesta também na EF. Todas estas transformações advém de um plano mais geral e que reflete a dinâmica da sociedade capitalista que passa por uma crise estrutural, em que a partir da década de setenta a implementação do neoliberalismo, a reestruturação produtiva no mundo do trabalho colocam em cena a necessidade da formação de um novo tipo de trabalhador este mais polivalente, flexível e de preferência sem direitos trabalhistas, tudo no sentido de reoxigenar a engrenagem capitalista fortemente abalada pela grande crise econômica que reduziu drasticamente as taxas de lucro da burguesia mundial.

Diante desta conjuntura de transformações tanto no âmbito mais geral quanto no específico da profissão é enviado à câmara dos deputados um conturbado projeto de lei (PL 330/95) que começou a ser discutido só depois de um ano já em tramitação na câmara dos deputados, foi aprovado no senado (PLC 33/98), e posteriormente no dia 1° de setembro de 1998 sancionado pelo presidente da república, a Lei 9696/98, que regulamenta a profissão de educação física e cria os conselhos federal e regional de EF (Nozaki, 2003). Este projeto sustentado pelo setor dominante da área que se organizava através das APEF’s (Associação dos professores de educação Física) tem o claro objetivo de reserva de mercado e de construção de um aparato legal que sustente as políticas delineadas pelo campo hegemônico da área, através de medidas coercitivas.

Isto é claramente observado quando nos questionamos quais foram os avanços para os trabalhadores em relação à regulamentação da profissão? São mais de 12 anos e não vimos nenhuma ação deste conselho que visasse à valorização da profissão, argumento principal utilizado para a criação do sistema CONFEF/CREF. Pelo contrário o que vimos é mais precarização, divisão dos trabalhadores já em sua formação, o que não os identifica enquanto classe e os coloca uns contra os outros quando os mesmos disputam os espaços de trabalho entre licenciados e bacharéis. No âmbito do mercado de trabalho não obtemos nenhuma garantia de um salário digno, direitos trabalhistas respeitados, problemas históricos em nossa área e nada disso foi alcançado, pelo contrário o que vemos é uma ação coercitiva do sistema CONFEF/CREF que prende trabalhadores nas academias, cobra anuidades que lhes dão um lucro de 8 milhões de reais por ano podendo assim sustentar este aparato a serviço do capital na EF.

É importante ressaltar que os próprios representantes dos CREF’s e do CONFEF em palestras oferecidas aos estudantes e professores da área, fazem questão de afirmar que eles nada tem haver com a defesa dos direitos trabalhistas (férias, décimo terceiro, licença maternidade, etc), entendendo a luta por estes como papel dos sindicatos. Sendo assim regulamentar uma profissão, nada mais é do que criar uma série de normativas, aparatos legais, que são próprios de determinadas profissões, que se nos interessarmos em pesquisar saberemos que tais ações já são realizadas pelo Ministério do Trabalho.

A partir desses preceitos, os movimentos sociais combativos e de luta trazem a tona o debate contrário à regulamentação da profissão e se engajam na luta pela regulamentação do trabalho, por entender que a regulamentação das profissões é fruto do neoliberalismo que desvincula o papel do estado para com os direitos sociais, entre eles os direitos trabalhistas historicamente conquistados pela luta da classe trabalhadora. Entendemos que o surgimento dos conselhos profissionais está diretamente ligado a reestruturação produtiva que interessa aos ditames do capital, que visam formar uma mão de obra cada vez mais precária e que esteja em condições de se amoldar as necessidades do mercado, assim que este requerer, tudo no sentido de aumentar as taxas de lucro e alimentar um sistema que transforma tudo em mercadoria.

Os conselhos profissionais transformaram-se não somente numa ferramenta de colonização de cada parcela do mercado de trabalho, como acontece com os trabalhadores da Educação Física. Hoje, adquirem o status de “estruturas avançadas do capital”, ingerindo em todos os âmbitos de cada área, desde a formação até a atuação profissional e ainda disputando uns com as outras parcelas cada vez maiores de exploração, como acontece com o CONFEF, que não satisfeito com tudo o que faz dentro da Educação Física, ainda busca interferindo em diversas outras áreas do conhecimento.

Colocamos aqui alguns elementos que hoje aproximam o Movimento Estudantil de Educação Física (MEEF) e o Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física (MNCR) movimento este que emerge em um dos Encontros Nacionais de Estudantes de Educação Física, na luta contra o sistema CONFEF/CREF que elencou o dia 1° de setembro, dia em que foi fundado, como o dia do profissional de EF numa clara tentativa de demonstrar através da arrogância o seu poder. Medida esta que combatemos todos os anos numa ferrenha luta travada contra este poderoso setor que hoje oprime os trabalhadores da área. Defendemos que o nosso dia é 15 DE OUTUBRO, dia do professor, pois independente do local que atuamos somos professores, temos a docência como identidade profissional e isto nos caracteriza enquanto tal.

Entendemos que este dia deve ser comemorado com muita luta, realizada por todos nós da educação física, no sentido de demarcarmos nossa posição enquanto classe social e demonstrar ao sistema CONFEF/CREF que este para nós é ilegal e ilegítimo. Tendo a clareza que somente os trabalhadores organizados, não em conselhos profissionais, mas sim nos movimentos sociais, sindicatos e no partido político, serão capazes de superar as contradições da sociedade capitalista, tendo em vista a construção do projeto histórico de sociedade da classe trabalhadora.

Pela Regulamentação do Trabalho e não da profissão!

1º de setembro não nos representa!

Somos todos professores, nosso dia é 15 de outubro!

Fora CONFEF!